João Carlos M. Madail
João Carlos M. Madail
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O Brasil registrou em 2022 a marca de 69,4 milhões de brasileiros inadimplentes. Este resultado foi superior ao do ano anterior em 7,8%. Segundo a Boa Vista SCPC/CDL-PoA, em junho de 2023 a inadimplência no Estado foi de 30,9%, numa sequência anterior de pequenos acréscimos. A mesma fonte sinaliza em Pelotas a inadimplência, no mesmo mês, foi de 32,5%, mantendo-se superior ao Estado nos últimos 12 meses.
Com o objetivo de ajudar as pessoas a quitarem dívidas e débitos e com isso retirarem seus nomes da lista de maus pagadores e voltar a ter crédito, o governo federal lança o programa Desenrola. A questão a ser debatida é a razão que leva o indivíduo a não cumprir os seus compromissos financeiros. São várias as questões que justificam a inadimplência. A falta de planejamento financeiro e a instabilidade econômica são alguns dos principais fatores, afora outros tantos que se acentuaram nos últimos dois anos devido à pandemia, que afetou drasticamente a renda do trabalhador formal e, principalmente, o informal.
O cenário da inadimplência afeta todos os segmentos da economia. Para o comércio varejista, trata-se de um desafio a ser enfrentado, já que o setor também é impactado de forma negativa, reduzindo vendas, com risco de faltar dinheiro em caixa. Outras questões que levam o indivíduo a se tornar inadimplente é o desemprego após ter firmado compromisso de compra em várias parcelas. Dados do IBGE registram que 13,5 milhões de brasileiros ficaram desempregados em 2021. A mesma fonte sinaliza a suba do desemprego no primeiro trimestre de 2023 em 8,8%.
Outro fator a ser considerado é a redução da renda familiar, seja pelo desemprego, aumento da inflação que diminui o poder de compra do consumidor, o que faz com que as despesas básicas sejam deixadas de lado, como faturas de cartão de crédito, por exemplo. Em tempos de dificuldades, as empresas são obrigadas a atrasar salários, o que também colabora para o não pagamento das contas, especialmente quando o atraso é recorrente, o que implica em juros e aumento considerável no valor total da dívida. Compras parceladas a perder de vista, que a princípio parecem encaixar no orçamento, somada a outras parcelas já existentes, resulta numa quantia maior a ser cumprido o que nem sempre é possível. Até mesmo o empréstimo consignado, modalidade para aposentados, quando mal planejado, compromete o orçamento.
Situações não esperadas como doenças ou impossibilidade de ir ao trabalho também impactam no orçamento quando não se tem certa reserva de emergência para cobrir gastos imprevistos. Com o advento das redes sociais, o comércio de produtos necessários e outros nem tanto, com apelos de pagamentos fáceis por meio de vários cartões oferecidos gratuitamente, é outro fator que gera inadimplência.
O programa Desenrola é uma boa oportunidade para quem quer limpar o seu nome e programar novas compras com mais cautela, adequadas aos valores do seu orçamento. Para isso, é necessário que o próprio governo ou entidades privadas incentivem programas de educação financeira para a população entender melhor a maneira de gastar o seu dinheiro e não se tornar inadimplente. A educação financeira consiste no uso consciente e saudável do dinheiro, com controle de gastos e o hábito de poupar. Segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), metade dos brasileiros não tem educação financeira e gastam o dinheiro de forma descontrolada. O resultado é muitas dívidas e pouco ou nenhum dinheiro para quitá-las.
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